De acordo com a lenda, a jovem teria adotado o nome de João VIII e reinado entre 855 e 857. Sua identidade, no entanto, foi revelada de forma dramática durante uma procissão em Roma, quando ela deu à luz uma criança. O escândalo foi tão grande que, em algumas versões da história, ela teria morrido durante o parto ou sido linchada pela multidão enfurecida. Tudo isso no auge da Idade Média, é claro.
A lenda da Papisa Joana ganhou força no século XIII, mais de 300 anos após o suposto evento, e até hoje é um dos mitos mais comentados na história medieval. Escritores como Jean de Mailly e Giovanni Boccaccio mencionaram o caso em suas crônicas e livros, o que ajudou a perpetuar a história. Ela também apareceu em pinturas, esculturas e, até mesmo, em cartas de tarô. Na Catedral de Siena, na Itália, houve uma coleção de bustos papais onde a figura da Papisa Joana foi brevemente incluída.
Mas e os registros? Nada encontrado. Não há menção contemporânea de uma mulher no papado. Além disso, a suposta Papisa Joana teria governado durante o período de Leão IV (847–855) e Bento III (855–858), dois papas historicamente documentados. Ou seja, não faria sentido a existência de uma papisa entre eles.
Apesar disso, alguns estudiosos, como o Michael E. Habicht, afirmam que até moedas antigas poderiam indicar a existência da Papisa Joana. Mas a grande maioria dos historiadores considera a história mais uma sátira antipapal do que uma realidade. Afinal, a Igreja Católica enfrentava muitas críticas na época, e a ideia de uma mulher subindo ao mais alto cargo da instituição poderia ter sido uma forma de ridicularizar o poder e os dogmas da Igreja.